domingo, 14 de julho de 2013
A Coragem de Seres Só
“Uma arma de triunfo te dei, sobre todas as outras: a
coragem de seres só; deixou de te afectar como argumento ou força esmagadora a
alheia opinião, as ligeiras correntes e os redemoinhos do mar; rocha pequena,
mas segura, sobre ti se hão-de erguer, para que vençam a noite, as luzes
salvadoras; não te prendem os louvores dos que te querem aliado, nem as ameaças
dos contrários; traçaste a tua rota e hás-de segui-la até ao fim, sem que te
desviem as variadas pressões. Só e constante, mesmo em face do tempo; os anos
que rolam tu os consideras elemento de experiência; para os homens futuros
episódios sem valor; se eles te abaterem, só terão abatido o que há de menos
valioso; e contribuirão para que melhor se afirme o que puseste como lição da
tua vida; a muitos absorve o actual; mas a ti, que tens como tua grande linha
de cultura, e porventura tua alma, a posse das largas perspectivas, a hora
começando te vê firme e firme te abandona. Nenhuma estóica rigidez neste teu
porte; antes a compassada lentidão, a facilidade maleável de bom ginasta; não é
por amor da Humanidade que hás-de perder as mais fundas qualidades de homem. Em
tal espelho me revejo, eu que tomei tua alma incerta e a guiei; e contemplo
como doce oferenda, como a mais bela visão que me poderias conceder, a clara
manhã que já de ti desponta e lentamente progredindo há-de acabar por embalar o
universo nos seus braços de luz.” (Agostinho da Silva - Filósofo/Poeta/Ensaísta)
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