quarta-feira, 20 de março de 2013
Reinventando a Vida
Da jornalista Eliane Brum: Quem me ensinou que a vida pode
ser reinventada a qualquer momento foram as pessoas que, nos últimos 21 anos,
me contaram suas histórias. Quando escrevia uma coluna semanal chamada A Vida
Que Ninguém Vê, que depois virou livro, conheci um homem que ilustra como
ninguém essa ideia. Vanderlei era o seu nome. Ele era aquele tipo de gente que
costumamos reduzir à personagem folclórico. Muito pobre e um tanto estropiado,
todo ano ele aparecia na Expointer, a maior feira agropecuária do Rio Grande do
Sul, com um cabo de vassoura. Dizia que o cabo de vassoura era seu cavalo de
raça. Passava pela inspeção veterinária, cumpria os trâmites burocráticos. E lá
ficava cavalgando pelos campos da exposição. Os “normais” da feira achavam muita
graça, tanta que até alimentavam-no e deixavam que dormisse por ali. Vanderlei
era o louquinho da Expointer. Um dia, na busca de gente para contar histórias,
emparelhei meu cavalo com o dele. Perguntei: “Vanderlei, você é louco?”. E
começamos a conversar. A certa altura ele disse: “Você acha que eu não sei que
meu cavalo é um cabo de vassoura? Mas pensa, raciocina (e batia a mão fechada
na cabeça). Eu nunca vou ter um cavalo de verdade. Você não acha melhor eu
acreditar que o cabo de vassoura é um cavalo?”. Só me restou o silêncio. Se ele
era louco, eu era o quê? Vanderlei desejava tanto um cavalo que deu patas,
crinas, carne, ossos e sangue a um cabo de vassoura. Reinventou sua vida da
maneira que lhe foi possível. Com a infinita liberdade conquistada, para
Vanderlei tanto fazia se era um cavalo ou um cabo de vassoura. Tornara-se capaz
de entregar-se ao galope desenfreado de um pampa imaginário. Afinal, quem diz o
que é um cavalo ou o que é um cabo de vassoura?
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